Este blogue tem conteúdo adulto. Quem quiser continuar é risco próprio; quem não quiser ler as parvoíces que aqui estão patentes, só tem uma solução.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A velha casa

(Este texto foi criado hoje mas é baseado num texto com cerca de 20 anos. Considero-o uma actualização necessária)



     Acabaram de bater as onze badaladas no velho sino da igreja. Meto a chave já enferrujada na fechadura, tacteando, pois a lâmpada de fora há muito que se encontra fundida. As velhas dobradiças rangem e eu entro na penumbra. Acendo o candeeiro que mal ilumina a sala. O anterior proprietário devia ser um forreta, já que todas as lâmpadas ou são de fraca potência ou estão simplesmente mortas de tanto uso. Atiro a pasta ao chão, descalço os sapatos e sento-me pesadamente na poltrona de tecido gasto. Tento vislumbrar o espaço, mas a fraca luz só me deixa adivinhar o que está à minha volta.

     Comprei esta casa há apenas 2 semanas. Mudei-me ontem mas esta será a primeira noite no velho casarão. Obras são precisas para que o edifício volte a ter o vigor de outros tempos. Festas e grandes recepções ocorreram neste espaço. Pelo menos assim falavam os vizinhos. Foram tempos de fartura, em que o vinho quase escorria pelo salão. O proprietário anterior, senhor de muitas terras, padrinho de meio mundo, era um mecenas. Mas era também um pobre homem, deixando-se enganar por falsas promessas de aumento da fortuna, que se revelaram verdadeiros fiascos. Terminou a vida quase a pedir esmola pelas ruas. Recebia apoio da Congregação, mas ninguém se atrevia a confirmar o facto. Afinal era ainda o mais alto representante de todas as boas causas sociais. Um exemplo a seguir por todos.

     Deixei-me ficar na poltrona. Na minha cabeça, quente dos problemas laborais, ainda se formavam ideias para restabelecer o esplendor ao casario. Pintura nova, canalizações, renovação dos pisos. O velho celeiro seria transformado em salão de festas. No jardim, se se pudesse chamar de jardim efectivamente, seriam removidas as velhas raízes e substituídas por árvores, arbustos e roseiras de diversas cores. E luz, muita luz. Proporcionada por lâmpadas de boa potência e abertura de janelas de grande dimensão. As ideias fluíam, assim houvesse capital financeiro para as concretizar.

     Um som… raios… estará alguém em casa? Pensei eu. Endireitei-me e tentei ouvir de novo. Efectivamente algo se ouvia. Risos talvez. Levantei-me e fui até à lareira. Peguei no ferro de mexer o fogo e em bicos de pés percorri o piso térreo. Afinal parece que o som vem lá de cima. Subi as escadas lentamente, tentando que as tábuas dos degraus não denunciassem a minha posição, com os rangidos que saiam debaixo dos meus pés. Já no cimo, pareceu-me ver uma ténue luz ao fundo do corredor. Tropeço num velho vaso e quase o quebro. Chiiiiuuuu… disse para mim mesmo. Continuei a seguir a luz, que se tornava cada vez mais forte. Parei em frente à porta do quarto principal que estava entreaberta e espreitei lá para dentro.

     Dois corpos jovens. Musculados, envoltos numa luz divinal. Seus lábios tocavam-se mutuamente e a cada beijo havia uma nova explosão de luz. Abraçados rolavam por cima da manta de retalhos que cobria a velha cama de dossel. Bem me avisaram os vizinhos que coisas estranhas se passavam aqui. Pensei, imaginando a vizinha gorda da casa do lado esquerdo e do seu finíssimo marido com bigode de pincel. Abri mais a porta e as dobradiças rangeram. Os amantes nem se assustaram, continuando os seus momentos de paixão. Aproximei-me e foi quando um deles me olhou me estendeu a mão. Estivesse eu hipnotizado ou não, só sei que segui naquela direcção.

     Três corpos se envolviam naquele leito. Beijos eram partilhados. Toques suaves. E uma sensação de paz invadia todo o meu corpo. Sentia-me flutuar, como se o colchão tivesse simplesmente desaparecido e uma almofada de ar nos sustivesse. Gemidos de prazer foram emitidos por todos. Envolvimentos mais profundos levaram-me a estados de prazer jamais sentidos. Poderia acabar o mundo naquele momento que não me importaria nada. Adormecemos juntinhos, quase nos fundindo num corpo só.

     Acordo com um sorriso nos lábios. Cheira a flores. Abro os olhos. Raios de sol atravessam os empoeirados vidros. Deparo-me com o fato de trabalho e com a gravata desapertada, sentado na velha poltrona de tecido gasto. Acho que dormi aqui e tudo o que aconteceu não passou de um belo sonho. E quando olho para o quadro que fica por cima da lareira, lá estavam aqueles belos jovens. Juro que um me piscou o olho mas deve ser apenas fruto da minha enorme imaginação.

     Só sei que quero recuperar a velha casa e que esta noite foi apenas o ponto de partida para um grande futuro.

8 comentários:

m. disse...

nada mau :)
podes pixeliar, que tens jeito.

Ribatejano disse...

Obrigado Margarida

E só levei uns meros 15 minutos a compor a "cena" (nota-se hehehe).

Francisco disse...

E, 20 anos mais tarde... :)

Queres continuar?!

Gostei bastante, tens jeito para a coisa(E, sai mais um dito gay :P )

Ribatejano disse...

Continuar?! ;D


Loooooooooool Ai a gargalhada que me arrancaste agora.

Sérgio disse...

A M. tem razão :-)
Abc

Ribatejano disse...

sad eyes

Já começo a sentir-me intimidado.

(esta poderia pertencer à categoria que o francisco referiu... dos ditos)

rsrsrsrs

João Roque disse...

Pegando no verbo inventado pela Margarida, livra-te de não pixelear na próxima oportunidade...

Ribatejano disse...

João

Três ameaças na mesma janela de comentários já me deixam bem preocupado. Acho que vou começar a escrever mais porcarias.

hahaha