Era minha intenção parar de escrever por uns dias mas o "bichinho" não me deixa em paz. Inauguro aqui uma série de textos que ficarão inacabados, possivelmente para sempre. Um amigo diz-me que serei um escritor famoso por não terminar o que começo. Tem sido assim em muitos momentos da minha vida, mas isso é outra conversa.
Aproveitando a época eleitoral actual comecei a escrever uma história com a campanha como tema de fundo. Os nomes das personagens escolhidas vieram à cabeça com naturalidade, por isso não devem ser confundidas com possíveis conhecimentos que eu tenha. Gosto dos nomes e pronto.
Apenas mais um dia de campanha
eleitoral numa movimentada rua da cidade. Uma multidão seguia o
candidato, cabeça de lista para o principal órgão executivo da
região. Marco, um jovem de apenas 22 anos, encontrava-se no meio da
confusão. Uma bandeira na mão esquerda, na outra um megafone, a
mandar palavras de ordem, de apoio. Os seus cabelos, orgulho daquele
rapaz de pele bronzeada, resultado de um verão passado na praia,
esvoaçavam com a brisa que se fazia sentir, naquela tarde praticamente outonal.
Apertos de mão, abraços, conversas,
promessas certamente faltas. Tudo normal para uma campanha eleitoral
em que a imagem se torna cada vez mais importante, deixando para trás
as qualidades que realmente interessam para o posto que será
ocupado. E Marco apoiava tudo aquilo. Não por ser igual mas por
querer ser diferente. Sonhador dizem alguns; força de vontade em
querer mudar, dizia para si próprio o rapaz, que quase rouco, seguia
o cortejo, quantas vezes arrastado, quase no ar.
Uma rua mais larga surgiu de repente. A
multidão espalhou-se e Marco pôde finalmente tocar com os pés no
chão. Decidiu parar um pouco para recuperar o fôlego e sentou-se na
primeira esplanada que encontrou.
“Uma água fresca faz favor”, pediu
Marco ao empregado que rapidamente chegara à mesa. A garrafa de
litro e meio depressa veio parar à sua beira. Pensou para si que era
um exagero, mas a verdade é que num ápice virou três copos quase a
entornarem. Sabia-lhe bem a frescura naquela tarde ainda quente.
Olhou em volta e deu-se conta de que a multidão tinha dispersado
quase na totalidade. Talvez tivessem ido em busca de sombras ou
simplesmente invadido os cafés instalados em redor. O candidato
meteu-se pelo centro comercial da esquina e Marco ficou para trás.
Nem se preocupou com a campanha, afinal estava ali tão bem naquela
sombra. “Amanhã há mais”, disse baixinho.
“Desculpe, pode-me dizer onde fica
esta rua?”. Marco virou-se para a direita em busca da boca por onde
saiu aquela pergunta, Junto de sim, um rapaz aparentando a mesma
idade, olhava-o com um papel na mão, esperando uma resposta.
Notava-se o aspecto de turista pois as roupas frescas, mochila,
óculos escuros e uma ténue mancha de suor assim o comprovavam.
Marco tentou explicar mas atrapalhou-se e perdeu-se nas indicações.
“Olhe o melhor é eu levá-lo até lá ou ainda se perde, já que
vou para aquela zona também”, prontificou-se Marco.
A malha urbana era realmente demasiado
complicada de se explicar. Marco meteu por aquelas ruas que conhecia,
talvez querendo até mostrar o seu lado de guia turístico ao rapaz
que a seu lado ía, atento às explicações que lhe eram dadas sobre
alguns edifícios. Chamava-se Chico e estava a descobrir a cidade.
Preferia o final do verão, antes de começar as aulas na faculdade,
onde estudava arte e design.
“Olha, eu também estudo lá”,
disse Marco. “Eu sei... já te vi por lá”, respondeu Chico com
um sorriso nos lábios e tirando os óculos de sol, mostrando os
lindos olhos que por trás deles se escondiam. “A verdade é que
conheço bem a cidade, mas foi um pretexto que encontrei para falar
contigo”. Marco ficou espantado...