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terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


Teria tomado uma má decisão? - pensava Afonso algumas horas após ter agido, possivelmente sem ter pesado as reais consequências que tal façanha acarretava. O dia começara com a normalidade do costume, solarengo, notando-se apenas uma pequena brisa que fazia deslocar suavemente as pontas dos velhos pinheiros que povoavam o lado de fora da sua janela. 

Levantou-se, cruzou o quarto e ainda de olhos meio abertos foi até à casa de banho, onde verteu as primeiras águas do dia e se colocou diante do espelho, para uma vez mais olhar para o estúpido que todos os dias, sem excepção, o mirava do outro lado daquela fronteira. Lavou os olhos ignorando o seu próprio reflexo, como querendo esquecer-se que o tempo passava e a jovialidade desaparecia aos poucos.

Trocou os habituais jeans e a camisola por uma vestimenta mais formal, afinal teria que se apresentar o melhor possível para aquele que poderia ser o emprego da sua vida. Apertou o nó da gravata, que pensava já não saber fazer com tal perfeição e compôs o colarinho da camisa tão bem engomada pelas maravilhosas mãos da sua vizinha da frente, sua melhor amiga naquela terra desconhecida.

Quase estragou o momento não fora a sorte do pingo de geleia que inundava a fatia de pão integral ter caído alguns centímetros além do tecido das suas calças vincadas. Sentia que estava atrasado apesar de se ter levantado muito antes do que era normal, porém sair de casa sem comer estava completamente fora de questão e não seria naquele dia que mudaria de hábito.

Olhou em volta, pegou a carteira, colocou a mão no bolso direito para procurar o lenço, pegou as chaves, saiu de casa, sem antes fazer o sinal da cruz na sua cara, como que pedindo uma bênção especial para aquele dia. Assim que passou o velho átrio do prédio sentiu que tinha chegado à fronteira da civilização. A porta da rua era o último limite que separava o passado daquele futuro que se aproximava e que poderia ser brilhante ou não.

Foi o barulho da cidade que o acordou totalmente. Aquele lufa-lufa infernal obrigava-o a ficar atento, como se a cada passo o perigo ou apenas o desconhecido pudesse ser um ataque contra si próprio. Sentia-se porém à vontade naquele espaço, como se nunca tivesse estado longe dele, como se a ausência fosse apenas mais uma situação normal da sua vida.

Optara por deslocar-se de táxi até ao centro da cidade. Achou que seria perigoso ir tão bem aperaltado de autocarro ou no metro, sujeito à panóplia de odores desagradáveis que àquela hora da manhã já povoavam os apertados espaços disponíveis nos transportes públicos usuais.

Parou em frente à deslumbrante construção de dezenas de andares de altura. Olhou para cima tentando avistar um cume que parecia estar fora do alcance da vista, notando a face inferior das letras garrafais que anunciavam um dos maiores bancos do país. Engoliu em seco, ajustou o nó da gravata, apertou os dedos com força em redor da pega da sua pasta castanha escura e avançou em direcção à porta que se abriu assim que ficou a um par de metros da mesma.

Contínua...


4 comentários:

João Roque disse...

Desistir é ser fraco, Amigo...

Anônimo disse...

##
Será que é da chuva que não nos larga ?

:-)

Francisco disse...

Estás a falar a sério?!

um coelho disse...

... tão bem aperaltado no metro... ainda poderia ser violado.