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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

leitura

Confesso que gostaria de saber mais sobre a década de sessenta e dos anos loucos do início da década seguinte, em relação à história deste nosso pequeno rectângulo à beira do mar plantado. Nasci quatro anos depois de um dos mais marcantes momentos da história recente, o dia em que os portugueses se viram livres do jugo de quem os tentara silenciar turante mais de quarenta anos. Podia ter nascido mais cedo pois era essa a vontade da minha mãe, contrariada pelos pensamentos um pouco rudimentares do meu pai. Não me deu tempo para o conhecer nem sequer para lhe poder fazer as perguntas que muitas vezes ficam em mim à espera da resposta que nunca virá.

Esta crónica que estou a escrever vem, ao contrário do meu nascimento, antes de tempo. Estava reservada para outro dia, mas por vezes as ideias avolumam-se dentro da minha cabeça na ânsia de quererem saltar cá para fora. Como não quero dores de cabeça desnecessárias, fiz-lhes a vontade e antes mesmo de me sentar à mesa para finalmente jantar, aqui estou a lançar na blogosfera mais alguns dos meus disparates... e outras coisas mais importantes.

As décadas que referi no início do texto foram as mais sangrentas da nossa história recente. A guerra assolou as colónias ultramarinas, terras que não eram de gente branca mas que foram sendo protegidas, como se fossem património próprio. E eram, pelo menos no pensar da altura ou principalmente antes de pais terem visto partir os seus filhos para protegerem o que não conheciam, mas que até então consideravam seu. A guerra é mesmo assim, tolda a vista fazendo ver coisas que até então não estavam ao alcance de todos.

Este palavreado todo vem de encontro com o real motivo pelo qual aqui estou, a leitura de um livro escrito por um amigo, que com a sua mestria literária relata as suas memórias daquelas paragens que um dia teve que proteger, mesmo não sendo desejo seu, antes pelo contrário. Um beirão, que em 1971 parte para terras distantes, ao desconhecido, em direcção aos horrores que na verdade eram escondidos para os habitantes da metrópole. Afinal esconder era a maior façanha de outros tempos.

Não sabia o que esperar de um livro de memórias sobre a guerra, principalmente por conhecer pessoalmente o autor, embora eu seja apenas um miudo e ele um amigo recente. Se por um lado esperava ler sobre os horrores, por outro esperava uma versão mais soft sobre o assunto. Encontrei uma bela história real, que me apaixona a cada página, a cada palavra cheia de significado e de autor.

Não cheguei ao fim do livro ainda, o que acontecerá possivelmente ainda esta noite, mas espero apenas encontrar mais do que até agora encontrei. De ressaltar o facto do livro conter algumas informações adicionais que são muito importantes para melhor se perceber o que se passou naquela altura em particular.

Recordo conversas que tenho mantido ao longo do tempo por diversos homens que, tal como o meu amigo, lutaram por um sonho que não era seu. Há quem esconda o que lá viveu. Há quem conte de forma romanceada o que de romance nada teve. E existem aqueles que não conseguem esconder ainda hoje todo aquele mal que por lá viveram. Podia contar aqui uma ou duas histórias de quem viveu em primeira pessoa esses horrores, mas não cabe a mim fazê-lo. Possivelmente não passarão de memórias orais, que cairão no esquecimento, a bem das gerações futuras.

A Ilha de Metarica, um livro de João Carlos Roque.