Milhões de pequenas partículas povoam o espaço em redor. Restos, resultados de muitos anos de desgaste das altas montanhas de rocha mais ou menos dura. Vento. Chuva. Quantos litros de água necessários para transporte e quantos mais que as depositam contra os penhascos que tentam resistir.
Servem de leito para um corpo cansado de mais um dia de labuta. Agarram-se às pernas, especialmente quando unidas ao precioso líquido que é fonte de vida. Pernas que secam lentamente ao ar ainda quente. Algumas gotas de suor escorregam pelas costas, sinal que o corpo precisa de refrescar.
Não me sinto tão só como possa parecer. A uns meros vinte metros, uma matriarca, olha as suas crias, que se aventuram água adentro.
Não há silêncio que valha o som que me envolve. A ondulação, talvez mais inconstante do que gostaria, provocam sensações várias, que vão desde o medo da imensidão à coragem para a aventura. E não, não me sinto tão só como possa parecer. A uns meros vinte metros, uma matriarca, olha as suas crias, que se aventuram água adentro.
O chão é duro, tal como atestam os glúteos já um pouco dormentes. Tento ajeitar a almofada pétrea onde me sento. Apetece seguir em frente para aliviar o desconforto. Porém, a caneta, o caderno e a vontade de escrever, fazem-me ficar mais um pouco. E de onde é que apareceram estes mosquitos que quase me comem as pernas?
Tenho por vezes a sensação que a praia me atrai mais do que sempre pensei. Talvez a costela lusitana e a velha ânsia de ir em busca de outras paragens. Talvez unicamente a solução que a vida encontrou para me mostrar que há mais além da rotina. Seja qual for a razão, agrada-me e cria vontade em querer continuar, em tentar encontrar mais respostas.
Aqui não há monotonia e os corpos nem sempre são iguais. Tento-os comparar e penso sempre que aquele que mais preenche as minhas medidas já cá está, apenas se apresenta algo escondido.
Olho um cão, sossegado e penso se o meu fiel companheiro terá semelhante comportamento quando decidir trazê-lo comigo. Vou ficar à espera que termine o verão para descobrir o resultado.
Vou voltar à água, tentar a fusão com as suas moléculas.
JÁ VOLTO
Faz-me bem a água fresca às articulações dos membros inferiores, ajuda a recuperar de velhas mazelas, resultado de esforços despropositados na prática desportiva. Gosto do sabor salgado, embora nem o devesse provar sequer. Sinto-me bem quando a impulsão molhada tenta derrubar este corpo. De quando em vez o nível sobe e... lá molho os calções outra vez.
Não sei nadar, confesso. Nem sequer tento boiar, não vá o mar levar-me a paragens indesejadas. Limito-me a ficar de molho, a saltitar, qual criança curiosa. E a linha do horizonte que me envolve e tenta puxar-me na sua direcção. Lembro se haverá melhor local para o descanso eterno. Os marinheiros dirão que não, enquanto as suas mulheres preferem os sete palmos de terra. Preferências de quem vive com o coração na garganta e que espera haver um sítio onde se possa depositar uma jarra cheia de flores.
(parágrafo que fica fora desta publicação)
Uma perna dormente faz-me cair para trás, deitando-me na toalha colorida, reactivando a circulação sanguínea. Ou apenas um aviso, de que está na hora de parar de escrever. Concordo com a ideia.
Fim de transmissão
Algures numa praia do oeste, quase deserta.
8 comentários:
Boa prainha :D
abraços
caramba, que texto bonito!
estou maravilhada.
Obrigado Francisco
Margarida
Assim eu coro...
Como a Margarida diz, tu, de vez em quando surpreendes mesmo!!!!!
Podias apostar mais nestas histórias. Levas jeito, como já foi dito acima. :)
João
Pois... tenho alturas...
Mark
Vou aprender contigo.
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