Acho
que não aqueci lugar pois fui chamado de imediato. «Terceiro
gabinete à esquerda.» Disse-me um rapaz bem apessoado. Segui,
entrei no tal gabinete e sentei-me. O assento estava frio, mármore.
Na secretária, de carvalho velho, um homem, de cabeça virada para
os papéis, resmungava. Parece que no céu estão todos mal
humorados. Ao que parece, pelo que me disse o velho, as contigências
financeiras obrigaram a autentar o número de horas de trabalho. Até
os arcanjos já pensavam em fazer greve. «Sabe porque está à minha
frente?» perguntou-me. Acenei a cabeça negativamente. «Está aqui
porque o raio do software do cálculo do coeficiente de entrada no
céu deu erro de novo. E quando dá erro mandam sempre aqui para o
velho Joseph Ratzinger. Raios de sorte a minha. Tanto que eu lutei em
vida e agora isto.»
«Nos
termos da adenda ao artigo 6969 do regulamento de acesso às portas
do paraíso, que muito foi contestado mas que o patrão foi
resolutivo, todos os homossexuais têm o direito de se arrependerem.
Por isso tem uma de duas opções: ou se arrepende imediatamente ou
ficará na sala à espera que se arrependa.»
Já
esperava há uma eternidade quando me lembrei que sendo a burocracia
do céu tão parecida com a da terra, decerto haveria uma solução
para o meu problema. Lembrei-me então de ir até ao guichet e pedir
o livro de reclamações. Um trovão iluminou o tecto e todos olharam
em minha direcção. O homem, de olhos esbugalhados, abriu a boca.
Quase dava para lhe ver o estômago. «Livro de reclamações?!».
Assim
que pousei a caneta no papel para escrever a minha reclamação, um
novo trovão entoou pelo espaço. Desta vez o susto foi ainda maior. E
do meio de uma nuvem apareceu um homem de toga branca debruada por
uma renda azul celeste. «Com que então não estás satisfeito com
as regras da casa?!»
(blá blá blá... a conversa do costume)
Indicaram-me
uma sala de porta verde. Não a consegui abrir à primeira, de tão
enferrujada que estava. Talvez fizesse muito tempo que não era
aberta. Pelo menos estava limpa. Um banco iluminado, de tecido
felpudo, esperava por mim. Sentei-me e como por magia, apareceu uma
secretária, uma caneta e uma folha de papel.
(blá blá blá... a conversa do costume)
5 comentários:
eheheheheheh!
Estás quase lá?! No arrependimento :P
ahahahahahahahahhahahahahah
Quando morreres (salvo seja) já sabes tudo; vais bem preparado...
Ai rapazes, que a vossa pressa é tanta.
:D
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bom testo...
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